Em 2022 estreou o filme de terror Noites Brutais, escrito e dirigido por Zach Cregger, marcando sua estreia solo na direção. Na época, o mundo vivia uma retomada lenta dos cinemas após a pandemia de covid, e esse foi um dos primeiros grandes sucessos de bilheteria do período. Com um orçamento de apenas 4 milhões de dólares, faturou mais de 40 milhões. A expectativa para A Hora do Mal era, acima de tudo, descobrir se Cregger era realmente um novo grande nome do terror contemporâneo ou se, com mais atenção e investimentos, cairia nos já tradicionais vícios do gênero.
A Hora do Mal gira em torno do enigmático desaparecimento de 17 crianças de uma mesma turma escolar, todas fugindo de casa na mesma madrugada — exceto uma. Sem sinais de invasão ou sequestro, o caso mergulha a pequena cidade em pânico. Enquanto os pais tentam compreender o inexplicável, as autoridades correm contra o tempo em busca de pistas. O que poderia ter levado tantas crianças a sumirem simultaneamente? E por que apenas uma ficou para trás? O mistério se aprofunda, revelando que algo muito mais sombrio pode estar em jogo.
O filme é um épico de terror com múltiplas histórias interconectadas e um elenco de peso, que inclui Josh Brolin, Julia Garner e Alden Ehrenreich. As ótimas interpretações ajudam a sustentar o clima que transita entre o terror e, eventualmente, a comédia. Cary Christopher, ator mirim de apenas nove anos, entrega uma atuação excepcional, reforçando a atmosfera de incerteza que domina os dois primeiros atos.
Apesar de impressionar em todos os aspectos técnicos, é preciso dar um crédito especial a Zach Cregger. Aqui, ele consolida sua posição como uma das grandes mentes criativas do terror contemporâneo. Mesmo com uma narrativa complexa e não linear, ele nunca subestima a capacidade do espectador de acompanhar os acontecimentos por meio de sutis pistas contextuais. É um filme que exige atenção, mas que também prende naturalmente o olhar graças à sua trama instigante.
Os sustos, sempre um ponto de discussão no gênero, são usados com inteligência. Muitos produtores de Hollywood ainda veem esse recurso como um atalho para causar medo, forçando sua inclusão em excesso. Cregger, ao contrário, entende que sustos funcionam melhor como uma das muitas ferramentas para criar tensão e ansiedade, não como a única. A brutalidade visual, outra tendência recente, também está presente, mas é dosada com coerência e propósito narrativo.
O único ponto fraco da experiência, que dura mais de duas horas, é um longo trecho de flashbacks com explicações expositivas para diversos simbolismos da história. Apesar de essenciais para compreender todos os detalhes, eles provocam uma queda perceptível na tensão. Felizmente, o diretor aproveita esse momento para fazer uma transição brilhante para um tom de humor negro. No clímax, quando já não há mais mistérios a serem revelados, a ação e o humor se misturam para criar cenas que, em outro contexto, seriam completamente absurdas, mas aqui funcionam perfeitamente.
A Hora do Mal reforça uma tendência cíclica de Hollywood: com as bilheterias em baixa e sem uma nova grande febre desde o auge dos super-heróis, o terror volta a ser a principal válvula de criatividade e ousadia do cinema comercial. E com este novo longa, Zach Cregger prova que é um dos nomes mais importantes a navegar nessa nova onda.
Nota: 9/10