
A Real Pain é uma comédia dramática produzida, dirigida, escrita e protagonizada por Jesse Eisenberg que explora as complexidades das relações familiares e a busca por identidade. Os direitos de distribuição foram adquiridos pela Searchlight Pictures no festival de Sundance em janeiro de 2024, e desde aquela época o filme já era visto como um grande favorito para um Oscar de atuação para Kieran Culkin. Essa previsão tem grandes chances de se confirmar no próximo domingo, dia 2 de março.
A narrativa acompanha David Kaplan (Jesse Eisenberg), um pai reservado e pragmático, junto com seu primo excêntrico, Benji Kaplan (Kieran Culkin). Eles partem para a Polônia para prestar homenagem à avó recém-falecida, em uma excursão que revive memórias do Holocausto e reconecta o grupo às suas raízes familiares. Durante a viagem, antigas tensões entre os primos voltam à tona, transformando a jornada em uma experiência emocionalmente carregada. Ao explorarem o passado familiar e enfrentarem as divergências que os afastam, David e Benji são compelidos a confrontar suas próprias escolhas e visões de vida.
Eisenberg conhece os pontos fortes e fracos do seu trabalho como ator e escreveu um personagem que encaixa perfeitamente com suas maiores qualidades. David é um personagem que sofre muito com sua ansiedade; ele tem dificuldade em se acalmar, aproveitar o momento e interagir com os outros de maneira natural por estar sempre pensando demais.
Em contrapartida, seu primo Benji é extremamente sociável e o tipo de pessoa que sempre se destaca com seu carisma em qualquer grupo. Não coincidentemente, Kieran Culkin tem o mesmo efeito como ator não apenas aqui, mas também em seus trabalhos anteriores, e não é a primeira vez de sua carreira em que seu trabalho alavanca um personagem, inicialmente coadjuvante, para o centro da trama. O longa não especifica se o personagem é bipolar ou ciclotímico, mas o espectador é fortemente induzido a acreditar que ele possui algum transtorno de humor.
A excursão para reviver memórias do Holocausto serve como pano de fundo e gancho para extrair a emoção dos personagens, mas em seu núcleo A Verdadeira Dor é uma história sobre dois primos que estão enfrentando seus próprios conflitos internos e tentando reatar uma amizade que, apesar de importante para ambos, o rumo de suas vidas acabou dificultando a manutenção. É possível apontar problemas na forma como o resto do grupo de turismo parece lidar bem demais com o drama entre os dois protagonistas, ou em como alguns monólogos podem parecer levemente exagerados dado o contexto em que estão inseridos. Por outro lado, é possível se desprender um pouco da lógica do dia a dia e apenas apreciar um grande trabalho de atuação e sensibilidade que poucos filmes são capazes de entregar.
Entrelaçando humor e melancolia, o filme se desdobra como um delicado balé de memórias, legado e reconciliação. Com uma narrativa envolvente, ele equilibra a leveza das risadas com a profundidade das emoções, oferecendo uma reflexão sincera sobre o passado e as conexões que nos moldam.
Nota: 10/10