Anora
Esse filme da Neon tem conseguido muito destaque na temporada de premiações deste ano, já recebeu 7 indicações ao BAFTA e ao Critics Choice Awards, além de ter vencido o prêmio Palma de Ouro 2024, concedido ao filme eleito como o melhor do Festival de Cinema de Cannes. Nas premiações que dividem os longas em diferentes categorias, o filme tem concorrido como uma comédia, mas é importante ressaltar a classificação indicativa de 18 anos e que, apesar de engraçado, o longa é também carregado de drama emocional. No Brasil, por conta da estratégia de lançamento que as distribuidoras nacionais adotam, de tentar navegar na onda de indicações do Oscar para ganhar visibilidade, o longa tem estreia marcada para o dia 23 de janeiro.
Em Anora, uma jovem acompanhante do Brooklyn conhece e impulsivamente se casa com o filho de um oligarca russo. Quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado, pois os pais de seu mais novo marido partem para Nova York com o objetivo de anular o casamento que trouxe vergonha para a família.
Sean Baker já é conhecido por sempre explorar o erotismo nos seus filmes e aqui não é diferente. O diretor e roteirista usa todas as cenas com viés sexual de formas que servem para o avanço da narrativa ou contextualização da personalidade do casal principal. Além disso, a comédia é feita de forma muitas vezes inesperada, mas sempre engraçada.
O roteiro nos traz a desconstrução de uma história de romance com elementos de sonho americano, com fortes mensagens sobre a marginalização de profissionais do sexo. Apesar de trazer várias mensagens sérias, o longa ainda assim é uma comédia que triunfa muito com o caos que é criado a partir de situações um tanto inusitadas, e com o despreparo dos personagens envolvidos. Há cenas em que os personagens parecem tão perdidos e confusos que deixam a impressão de que toda aquela bagunça realmente aconteceu.
Mikey Madison está excelente interpretando Ani, uma mulher jovem que trabalha em uma boate e como acompanhante de luxo. Ela é capaz de entregar cenas de sedução, de drama e também de comédia, todas com excelência, fazendo por merecer todas as indicações para prêmios de melhor atriz que está recebendo.
O jovem russo Ivan é interpretado por Mark Eydelshteyn, um personagem irritante que acaba conquistando Ani não apenas pelo seu dinheiro ou pela promessa de uma vida regada a festas e diversão, mas também pela sua inocência e o fascínio que ele desenvolve rapidamente pela personagem de Mikey.
Além do casal protagonista, eu gostaria de ver mais destaque nas premiações para o personagem Igor, interpretado por Yura Borisov. O ator consegue entregar muito em conversas e momentos dramáticos, e até em momentos de comédia a seriedade do personagem torna muitas cenas mais engraçadas do que elas tinham o direito de ser.
Anora é um filme caótico com diferentes fases, começando pela luxúria e pelas festas, passando para a humilhação e marginalização da protagonista e então concluindo a história com uma pitada de trauma emocional. Se no começo do filme o diretor nos confunde quanto ao que o filme realmente se trata, demorando para introduzir a comédia e explorando muito mais o romance do casal, o final é carregado de carga emocional que vem como um soco no estômago, trazendo uma nova perspectiva para a trama acompanhada ao longo do filme.
Nota: 8/10