Desde Vingadores: Ultimato, a Marvel está tentando recuperar a audiência que seu universo cinematográfico havia conquistado. A verdade é que muitos consideraram esse episódio como um verdadeiro final para a franquia e, desde então, os produtores do estúdio vêm tentando apresentar novas ideias e direcionamentos para o seu universo nas telonas, mas só acabam deixando cada vez mais claro que este devia ter acabado ou, pelo menos, que precisava de um tempo de descanso para amadurecer ideias e ter uma direção mais bem estabelecida para suas próximas fases.
Os trailers da Marvel já foram criticados diversas vezes por entregarem todos os detalhes da trama antes mesmo do lançamento do filme. A boa notícia é que dessa vez os trailers não contam tantos detalhes da história. A má notícia é que o material de marketing fez parecer que o longa seria muito mais interessante do que o apresentado como produto final.
Em Capitão América: Admirável Mundo Novo, Sam Wilson (Anthony Mackie) oficialmente assumiu o manto do Capitão América e, após se encontrar com o recém-eleito presidente dos EUA, Thaddeus Ross (Harrison Ford), se vê no meio de um incidente internacional e precisa descobrir o motivo por trás de um plano global nefasto.
O filme passou por várias reescritas e conta com 5 roteiristas creditados, o que nunca é um bom sinal. Também passou por vários processos de refilmagem, e a falta de decisão sobre o rumo da história é perceptível na quantidade de cortes aparentemente desnecessários em múltiplas cenas. Chega a ser difícil julgar a qualidade do trabalho técnico quando é visível o quanto o projeto sofreu com interferência criativa do estúdio.
Se isso não bastasse, os efeitos especiais parecem estar inacabados. É difícil dizer que os efeitos vão envelhecer mal quando eles já não são bons. Todas as melhores cenas de ação já estão no trailer, a coreografia das lutas é fraca, e é notório como existem trechos em que algumas cenas foram gravadas em locação, enquanto outras cenas que se passam no mesmo ambiente foram gravadas com tela verde de fundo.
O longa havia criado em muitos a expectativa de algo que retornasse a uma abordagem mais similar à de Soldado Invernal (um dos melhores filmes de toda a história da Marvel nos cinemas), mas lamentavelmente passa bem longe disso. Com uma trama política extremamente fraca e um vilão completamente esquecível, às vezes é preciso se esforçar para lembrar o motivo de tantas batalhas e explosões.
A principal preocupação de muitos fãs é se o novo Capitão América vai ser tão bom quanto o anterior. O personagem tem exatamente a mesma preocupação de se igualar a seu antecessor, e sua jornada emocional durante o longa é focada nisso. Anthony Mackie é um bom ator, e nos poucos momentos em que tem oportunidade de demonstrar mais emoção, isso fica claro. Já nas oportunidades muito mais frequentes de fazer piadinhas em meio a cenas de ação, ele não parece estar nem um pouco confortável em seu papel.
Harrison Ford traz uma das melhores interpretações de sua carreira nos últimos anos. Apesar de já ter 82 anos de idade, ele não parece interessado em desacelerar ou exigir menos tempo em cena. Ele interpreta um presidente dos EUA que, apesar de moralmente questionável, se torna um personagem melhor do que o roteiro lhe dá o direito de ser graças ao esforço do ator.
Já Giancarlo Esposito tem um personagem comicamente desnecessário para a trama, e o talento do ator é completamente desperdiçado. Tim Blake Nelson, apesar de ser muito mais importante para a história, está bem fraco no papel. Com um trabalho de maquiagem questionável e motivações rasas, o filme carece de um vilão interessante.
Se o mau uso de um ótimo elenco e efeitos especiais aquém do esperado estão se tornando marca registrada da Marvel, as cenas pós-crédito, que possuem informações sobre o futuro da franquia, já são um padrão há muito mais tempo, e aqui não é diferente. Para quem não tem interesse no universo cinematográfico como um todo, e não acompanha a linha do tempo dos filmes, é completamente dispensável ficar na sala aguardando o final dos créditos por mais 15 segundos de diálogo.
Capitão América: Admirável Mundo Novo não faz jus ao nome e traz um mundo extremamente familiar para todos que já assistiram outros longas da Marvel. Com baixíssimo valor de produção e não sabendo fazer bom uso de seu elenco, deixa a impressão de que um roteiro inicialmente voltado para uma trama política foi destruído para se adaptar mais uma vez ao mesmo tom que todos os outros longas do estúdio já entregam.
Nota: 3/10