Como Treinar o Seu Dragão é originalmente uma animação lançada em 2010 pela DreamWorks Animation, dirigida por Dean DeBlois e Chris Sanders. Além do sucesso de bilheteria e da aclamação crítica, a obra deixou um impacto duradouro ao explorar temas como empatia, coragem e aceitação das diferenças, conquistando uma legião de fãs e originando uma trilogia elogiada e uma onda constante de produtos que mantêm viva a sua magia até hoje.
Refilmagens em live-action de animações antigas já são lugar-comum. O diferencial aqui é que não se trata de mais um remake da Disney. A DreamWorks, apesar de ter um catálogo de sucessos, vem enfrentando dificuldades financeiras há mais de uma década e foi adquirida pela NBCUniversal em 2016. A estratégia atual do grupo é maximizar o uso das propriedades intelectuais que possui, o que soa familiar, mas a curiosidade maior estava em ver como isso seria colocado em prática. E o novo Como Treinar o Seu Dragão talvez represente o primeiro indício concreto do que esperar dessa nova fase.
Na ilha de Berk, onde o confronto entre vikings e dragões é rotina, o jovem Soluço (Mason Thames) rompe com as tradições ao formar uma amizade improvável com Banguela, um temido Fúria da Noite. Ao lado de Astrid (Nico Parker) e do ferreiro Bocão (Nick Frost), ele embarca em uma jornada que desafia crenças antigas e mostra que a verdadeira coragem também nasce da empatia.
Um dos grandes diferenciais do longa frente a outros remakes é sua equipe criativa. Dean DeBlois, co-roteirista e co-diretor da trilogia original, retorna aqui acumulando funções de roteirista, diretor e produtor executivo, uma decisão acertada para garantir respeito ao material original. Ele aproveita a oportunidade para desenvolver melhor personagens secundários que ficaram em segundo plano na animação. John Powell, responsável pela trilha sonora marcante da saga, também está de volta com novas versões orquestradas que mantêm o peso emocional da obra.
E fica claro que esse remake nasceu de um lugar de carinho e cuidado. O design de produção é primoroso, os efeitos especiais são bem executados, e o filme consegue expandir aspectos da história original sem comprometer sua essência. Muitas cenas são quase idênticas às da animação, e tudo bem pois há um motivo pelo qual o filme se tornou tão querido há 15 anos. Para quem já conhece a narrativa, não há mudanças drásticas: apenas ajustes pontuais que conferem mais nuance a certos personagens, solidificam o universo narrativo e reforçam o ritmo do tempo.
Apesar de trazer dragões, vikings e batalhas, o live-action preserva o humor e a sensibilidade que o tornam tão acessível para o público infantil. Mesmo com alguns clichês ocasionais, ainda emociona ao lembrar que, nos momentos difíceis, se colocar no lugar do outro pode ser o maior ato de coragem.
Como Treinar o Seu Dragão é um excelente primeiro passo dentro da iniciativa da NBCUniversal de resgatar grandes títulos do estúdio. Com o sucesso desse lançamento, talvez haja um alívio quanto ao que virá a seguir com propriedades como Shrek, Kung Fu Panda e Madagascar. Finalmente temos um exemplo de adaptação que enriquece o original, sem parecer apenas uma tentativa apressada de capitalizar em cima da nostalgia.
Nota: 8/10