Emilia Pérez
No principal candidato da Netflix para a temporada de premiações, a advogada mexicana Rita (Zoe Saldana) está visivelmente frustrada com o rumo que sua vida tomou, desperdiçando seu talento para defender criminosos. Ela se sente impotente, como mulher negra, para conseguir conquistar qualquer tipo de mudança para seu futuro. Em uma reviravolta na sua vida, ela não se sente hesitante em aceitar a proposta -um tanto curiosa- do chefe de um Cartel mexicano, Juan Del Monte (Karla Sofía Gascón), que permitirá que ela se aposente e desapareça. Logo ela constroi uma relação não apenas com ele, mas também com sua esposa, Jessi (Selena Gomez).
Ainda cedo, nós somos apresentados a um dos padrões dessa obra: o caricato. Toda a apresentação da gangue e a ambientação do encontro com esse mundo é genérica e desinspirada. Além disso, o filme não demora para praticamente descartar toda a história envolvendo criminosos, e esse é o segundo padrão que encontraremos por outras vezes durante o longa: tramas sendo deixadas de lado.
O tema da mudança de gênero também parecia ser um dos pontos centrais de tudo. Somos apresentados a diferentes médicos cirurgiões e seus escritórios, todos novamente indiferentes e grotescos. E se por um lado temos uma atriz e personagem transexual, novamente o desenvolvimento desse aspecto da história é extremamente superficial, a ponto de pularmos todo o processo de transição.
Uma das causas de histórias mal desenvolvidas costuma ser a grande quantidade de distrações. Portanto, também temos a problemática dos jovens desaparecidos após crimes de violência, e o envolvimento de políticos com o mundo do crime. Experimentamos, de novo, os mesmos problemas: superficialidade e abandono das subtramas.
E não podemos esquecer do mais importante, o filme é um musical! Lamentavelmente as músicas são curtas, e muitas mal possuem qualquer coreografia. São colocadas como conversas e servem como atalho para facilitar diálogos, que seriam mais complicados de desenvolver com conversas naturais. E não é possível ignorar como boa parte do terceiro ato aparenta esquecer de suas músicas. Nos momentos de maior intensidade, as melodias servem como mero pano de fundo.
Em suma, acabamos por acompanhar uma história que, apesar de ótimas atuações, trata de forma leviana sobre um trio de mulheres que não conseguem se desprender de seus passados. Um musical sem canções memoráveis, que tenta abraçar várias causas e acaba não se aprofundando em nenhuma. Um filme feito para concorrer em categorias de língua estrangeira, que se passa no México mas tem um diretor e roteirista francês, e momentos em língua inglesa. O desespero da Netflix em tentar ganhar um Oscar a qualquer custo é evidente.
Nota: 5/10
Alexey, eu preciso ser honesto: sua análise tem consistência e apresenta argumentos válidos sobre os pontos fracos do filme. Entretanto, parece que a crítica ficou muito focada nas falhas e deixou de lado qualquer aspecto positivo que pudesse equilibrar o texto. Isso pode dar a impressão de que o filme é um completo desastre, mesmo que ele tenha méritos, como você mencionou, nas atuações ou em outras áreas.
Talvez valha a pena reavaliar se algumas das tramas ou escolhas estéticas que você criticou não poderiam ser interpretadas de maneira diferente. Afinal, nem toda narrativa precisa ser profundamente desenvolvida em todos os seus aspectos para ser válida. Às vezes, superficialidade em uma subtrama pode ser uma escolha consciente, ou até um reflexo da perspectiva dos personagens. Também, o tom caricato ou genérico pode estar alinhado com a proposta do filme ou um comentário social.
Por fim, você pega pesado com o "desespero da Netflix". Ainda que seja uma opinião forte, talvez suavizar a crítica e reconhecer que o filme tenta inovar ou explorar uma nova abordagem (mesmo que falhe) tornaria sua análise mais acessível para quem gostou ou pode encontrar valor na obra.