Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado é uma franquia de terror criada em 1997 por Jim Gillespie, baseada no livro homônimo de 1973. Nela é estabelecido o clássico assassino do gancho, que, apesar de ter se tornado uma referência na segunda era do gênero slasher (conhecida como a era autorreferencial), nunca conseguiu atingir o status de ícone do terror como Ghostface, da franquia Pânico.
É curioso como, em 1997, esse filme foi produzido às pressas para surfar na febre da franquia Pânico, que havia começado apenas um ano antes. É uma história muito parecida com a da franquia Sexta Feira 13, que foi concebida da mesma forma na década de 70 para aproveitar o sucesso criado por Halloween. A principal diferença entre Jason e o assassino do gancho é que o primeiro surgiu como ícone em uma franquia que teve um bom primeiro filme e que o personagem do Jason nem sequer é o assassino original, sendo uma figura construída ao longo das continuações. Já o assassino do gancho surgiu sem personalidade, em um filme medíocre, dentro de uma franquia que nunca conseguiu se sustentar.
Agora, o novo filme chega como uma “sequência legado”, abordagem que vem sendo utilizada por diversos estúdios para ressuscitar franquias antigas. Trata-se de uma continuação direta dos filmes anteriores, mas que se passa décadas depois, com os atores originais retornando aos seus papéis. Não por coincidência, Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado está voltando após o recente sucesso das novas sequências de Pânico, que, junto a franquias como Terrifier, X e Rua do Medo, parecem estar moldando o que um dia será lembrado como a quarta grande era do terror slasher.
O novo filme acompanha cinco jovens que, após se envolverem em um acidente de carro fatal, fazem um pacto de silêncio e tentam seguir com suas vidas. No entanto, o passado retorna com força quando um misterioso assassino armado com um gancho começa a persegui-los, revelando que os segredos enterrados nunca estiveram tão perto da superfície. Conforme o grupo é colocado em perigo, eles descobrem que a tragédia de Southport tem raízes mais profundas do que imaginavam — e que a chave para sobreviver pode estar nas mãos dos dois únicos sobreviventes do massacre de 1997.
A franquia nunca foi reconhecida pela qualidade do roteiro ou da história, mas era de se esperar que pelo menos o básico do desenvolvimento narrativo fosse entregue. A história não tem ritmo, e a direção não colabora com a ausência de suspense. Com quase duas horas de duração, faltam momentos de tensão, faltam perseguições criativas e, em uma década em que o terror corporal e a violência gráfica estão em alta, falta sangue. Toda a criatividade foi gasta em referências desnecessárias e piadas sobre como homens precisam fazer terapia. O filme também ameaça lidar com temas sérios como gentrificação e o impacto dos traumas em nossas vidas, mas é uma ameaça tão inofensiva quanto a que o próprio assassino do gancho oferece durante o longa.
A trilogia original nunca conseguiu se estabelecer completamente. O terceiro filme, Eu Sempre Vou Saber o Que Vocês Fizeram No Verão Passado (2006), sequer foi lançado nos cinemas, indo direto para DVD. Portanto, dizer que a franquia precisava se reinventar é exagero — ela nunca inventou nada. O que existia eram alguns poucos personagens que ficaram gravados na memória da pequena base de fãs, personagens esses que o novo filme fez questão de desrespeitar.
E para quem assistiu aos filmes anteriores e se lembra de um dos piores finais cinematográficos da história, apresentado no longa de 2006, vai se surpreender (ou não) ao descobrir que conseguiram repetir o mesmo nível de má qualidade mais uma vez.
Se não bastasse a história longa e sem grandes acontecimentos, o trabalho de câmera e iluminação talvez seja o pior do ano até agora. Esse é o terceiro longa da diretora Jennifer Kaytin Robinson, cujos dois filmes anteriores foram comédias adolescentes. Infelizmente, ela não sabe trabalhar com sombras e escuridão, não sabe criar clima de suspense, e o roteiro sem ritmo definitivamente não a ajudou a estabelecer o mínimo de dinamismo para evitar o tédio.
Um dos principais motivos para a segunda era do slasher nunca ter deixado uma marca significativa é o fato de que a única franquia realmente boa a ter surgido nela foi Pânico. Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado ser o segundo maior nome da época sempre foi prova disso. E a franquia parece ter voltado apenas para nos lembrar por que ninguém gostava tanto assim dela. Fica a esperança de que esse tenha sido, de fato, o fim.
Nota: 2/10