Faça Ela Voltar é um filme de terror psicológico sobrenatural com elementos de horror corporal, dirigido pelos irmãos australianos Danny e Bill Philippou. A dupla começou no entretenimento com um canal de comédia no YouTube, que mais tarde migrou para curtas de terror com forte tom satírico. Até hoje, o vídeo mais popular do canal é um curta em que Ronald McDonald experimenta a comida do Burger King.
Dado o conteúdo extremamente humorístico do canal, muitos se surpreenderam quando, em 2022, pela A24, os dois lançaram um longa de estreia que se tornou sucesso de crítica e bilheteria, consolidando-os como uma nova promessa do terror alternativo. Com o anúncio de Faça Ela Voltar, surgia mais um caso, semelhante ao de A Hora do Mal, de jovens cineastas tentando repetir o êxito de sua primeira obra.
Órfãos de pai e sob a guarda de uma nova mãe adotiva excêntrica, dois meio-irmãos descobrem cedo que o lar nem sempre é refúgio, e que a família nem sempre salva. Entre cânticos ritualísticos e símbolos ocultos, o que parecia proteção se transforma em pesadelo. Bring Her Back mistura horror psicológico e suspense sangrento para mostrar que nem todo dom é bênção e que nem toda casa é um lar.
Sally Hawkins, como a madrasta, assume um papel distante do que costuma interpretar. Em vez da leveza das comédias que a consagraram, ela entrega aqui uma personagem dramática, paranoica e manipuladora. Billy Barratt, com o maior tempo de tela, surpreende ao encarnar um irmão mais velho prestes a completar dezoito anos, apesar de ter apenas treze. Sua maturidade em cena é impressionante.
Um dos aspectos mais marcantes do longa é a direção de atores mirins. Sora Wong, descoberta pelos irmãos Philippou através de um anúncio no Facebook, não possuía experiência prévia, mas se entrega ao papel com naturalidade. O destaque, porém, vai para Jonah Wren Phillips, ou talvez para a forma como suas cenas foram conduzidas. Como a produção foi realizada na Austrália, as filmagens seguiram regras locais rígidas para proteger menores, o que torna ainda mais surpreendente o impacto de algumas cenas de horror corporal em que ele aparece.
Onde os Philippou tropeçam é no excesso de didatismo. A força do filme está justamente na ambiguidade: a narrativa poderia ser lida tanto como um mergulho no psicológico quanto como uma manifestação sobrenatural. No entanto, a insistência em confirmar que os eventos são de fato sobrenaturais enfraquece o desfecho, tirando peso do que poderia ter sido o melhor final, e talvez o melhor filme de terror do ano.
Ainda assim, vale ressaltar: apesar do tom emocional e melancólico do clímax, este é sim um filme de terror. Não há sustos fáceis, mas há muito sangue, cenas pesadas e traumas que assombram tanto quanto qualquer entidade. A obra se encaixa perfeitamente na nova onda de terror corporal, que combina o visceral com o psicológico, tendência cada vez mais forte no gênero.
As histórias que o cinema pode contar são limitadas, mas as formas de contá-las são infinitas. Faça Ela Voltar parte de uma premissa familiar, já usada em inúmeros suspenses e terrores das últimas décadas, mas a forma como os irmãos Philippou a traduzem para a tela é única, moderna e marcante. Um filme que confirma não só o talento da dupla, mas também a força do terror como gênero mais competitivo do ano.
Nota: 8/10