Depois que seu lar é conquistado pelos imperadores tirânicos que agora lideram Roma, Lucius (Paul Mescal) é forçado a entrar no Coliseu e deve olhar para seu passado para encontrar forças para devolver a glória de Roma ao seu povo.
Sendo uma sequência do primeiro Gladiador, o projeto na verdade estava engavetado há anos. Se quisermos procurar indícios de qual expectativa ter para o filme, talvez baste questionar por que Ridley Scott, um diretor já renomado e com grandes filmes de sucesso atrelados ao seu nome, levou tanto tempo para conseguir financiamento para essa iniciativa.
Por mais que não sejam duas partes completamente independentes, a primeira metade deste filme é direcionada a uma história de vingança, com uma narrativa movida através de combates e violência, enquanto a segunda metade é muito mais voltada para a trama política circundando o cargo de Imperador de Roma.
Quando a história é voltada para os combates, fica evidente que esse é o principal motivo para essa sequência sequer existir. Com uma construção não muito diferente de um filme do John Wick, acompanhamos o protagonista em uma jornada incessante por vingança, onde o diálogo raramente é uma opção; o objetivo é matar um soldado por vez até chegar ao seu alvo principal. A narrativa é simples, mas funciona, e o ódio é um motivador comum o suficiente para tornar as lutas interessantes e construir a personalidade do personagem através delas.
Já a trama política, apesar de iniciar de forma interessante, logo se torna um festival de clichês e comodismo. É cômica a ideia de que um mercador de escravos encontrou, em um soldado recém-comprado, a sua oportunidade de tentar dar um golpe de estado no Império Romano em seu auge. O roteiro demonstra sua falta de profundidade quando recorre inúmeras vezes à nostalgia, trazendo flashbacks e referências ao filme anterior para tentar justificar decisões no presente.
O enredo acaba se tornando um esboço de um épico de ficção histórica, com um protagonista que troca suas motivações como quem troca de roupa. Tudo culmina em um combate final que talvez seja o pior do filme, onde não apenas os problemas de roteiro, mas também as falhas técnicas ficam em evidência.
O ponto mais forte do filme está no elenco e na qualidade das interpretações. Paul Mescal representa um líder nato, capaz de conquistar a todos que interagem com ele. Macrinus (Denzel Washington) é um destaque inesperado; apesar de alguns diálogos mal construídos, o ator ainda consegue manter suas cenas interessantes. Os imperadores Geta (Joseph Quinn) e Caracalla (Fred Hechinger) são vilões na forma mais pura da palavra. É difícil empatizar com todos os antagonistas, mas isso acaba sendo uma ferramenta para a construção de um oponente final mais interessante.
É quase cômico pensar sobre o General Acacius, pois apesar de interessante, parece que o Pedro Pascal está preso no mesmo papel há alguns anos. Quem já assistiu The Last of Us ou Mandalorian irá encontrar novamente um homem imponente e violento, que está protegendo alguém e tem muitos sentimentos reprimidos, parecendo estar sempre se controlando para não explodir. Apesar de ser um caso curioso, é óbvio que há um bom motivo para ele sempre receber esse tipo de papel.
Gladiador 2 tenta trazer uma história de grande escala, e a representação visual disso vem, principalmente, através do Coliseu de Roma. Um Coliseu construído em CGI e que varia constantemente de tamanho. Em algumas cenas, a quantidade de arquibancadas e pessoas presentes parece interminável, e na cena seguinte, vemos o mesmo coliseu com as proporções de um estádio de futebol comum. E não é nem possível argumentar que é um problema de perspectiva e posicionamento da câmera, já que é visível que os figurantes são todos feitos em CGI e tudo foi construído digitalmente na pós-produção. Quando exércitos inteiros são colocados na tela no arco final, a artificialidade de tudo fica ainda mais evidente.
Como se não fosse o suficiente, o design de produção não dá nenhum senso de credibilidade ao longa. As construções antigas parecem de plástico, e é tudo tão limpo! Não é preciso replicar com total precisão as condições de higiene da época, mas a ausência de manchas em construções e roupas, os dentes perfeitamente brancos de todos, e um personagem mencionado como não sendo muito cheiroso parecer que está sempre de banho tomado não ajudam na imersão da história.
Esta sequência do original de 2000 possui vários combates criativos e uma trama criada para justificar colocar todas essas ideias de combates em um único filme. Apesar de ter mais investimento financeiro que o seu precursor e com uma história de escala muito maior, é um roteiro que não funciona sem apelar para a nostalgia. Se o primeiro longa é um épico visto como um marco na história do cinema, o segundo é apenas uma grande produção com muita ação e pouca substância, que não vai envelhecer bem, apenas manchando o legado criado pelo original.
Nota: 5/10