Em Herege, duas jovens missionárias, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher), estão visitando casas na tentativa de atrair novos fieis para sua Igreja. Porém uma visita ao Sr. Reed (Hugh Grant), um homem inicialmente receptivo, acaba se mostrando uma grande armadilha, que visa colocar as meninas não apenas em uma discussão filosófica sobre religiões e a própria existência de um Deus, mas também em um jogo de sobrevivência.
A introdução do filme é excelente em apresentar as duas protagonistas e a relação que cada uma delas tem com a religião Mórmon. Com a semente da dúvida plantada em nossas mentes, a respeito do quão forte a fé delas realmente é, nós somos apresentados ao Sr. Reed.
Apesar de extremamente convidativo, os sinais de que o grande vilão do filme estava tramando algo estão ali desde o começo, e uma atmosfera sinistra nos acompanhará durante a trama inteira a partir do momento que o conhecemos. Seja pela falta de qualquer toque pessoal na casa, pela esquisitice do sistema elétrico que faz com que as luzes sempre se apaguem, ou até mesmo pela forma como a câmera navega pela sala, fazendo com que nos sintamos presos naquela residência desde quando a meninas entram ali, fica perceptível que ele estava preparado para receber essa visita.
Já cedo, mergulhamos de cabeça em um debate sobre religiões, que à medida que o filme se desenrola irá crescer cada vez mais. Nós testemunhamos as jovens sendo bombardeadas com argumentos meticulosamente escolhidos para desestabilizar a sua fé.
Diferentemente de outras obras de terror, que tentaram o mesmo e falharam, aqui vemos o debate sobre a existência do divino como o principal motivador de toda a história. Não existe um momento em que abandonamos a discussão para assistirmos a ação, as duas coisas andam de mãos dadas até o último momento.
Ao mesmo tempo que a trama filosófica nunca se perde e molda o rumo da história, é preciso uma dose de suspensão de descrença para se divertir. Muitos cenários podem parecer demasiadamente forçados para o espectador que tenta se imaginar no lugar das personagens.
Não é possível finalizar esse comentário sem adicionar que, mesmo sendo um estúdio que popularmente respeita a liberdade criativa de suas produções, essa é uma obra que poderia ter sido facilmente modificada para alcançar uma faixa etária mais ampla (No Brasil, a classificação indicativa é 16 anos). Isso acaba por permitir que a progressão do medo que sentimos do Sr. Reed encontre seu ápice de forma mais chocante.
Herege é um terror que brinca com nossa imaginação e nossas próprias dúvidas. Com personagens caricatos, mas que representam sentimentos e dúvidas verdadeiras, traz uma trama que nos deixa sentados na cadeira até os créditos finais acabarem, tentando entender: seriam nossos questionamentos verdadeiros? Ou perdemos o controle de nossos pensamentos durante essa experiência?
Nota: 8/10