A franquia Invocação do Mal começou em 2013 com o filme dirigido por James Wan (também responsável por Jogos Mortais e Sobrenatural). Após dirigir a continuação de 2016, Wan passou o bastão para Michael Chaves, mas Patrick Wilson e Vera Farmiga permaneceram como Ed e Lorraine Warren. Agora, reunindo os roteiristas dos três longas anteriores, a produção revisita um dos casos mais polêmicos investigados pelo casal: o poltergeist que teria atormentado os Smurl em West Pittston, Pensilvânia, nos anos 1980.
Durante mais de uma década, a família Smurl afirmou viver sob a presença de algo que chamavam de “demônio”, com relatos de batidas, cheiros fétidos, objetos se movendo sozinhos e até ataques físicos e sexuais contra os moradores. A Igreja Católica nunca reconheceu oficialmente o caso, vizinhos alegaram nunca ter visto nada de incomum e céticos apontaram apenas problemas conjugais e financeiros. Ainda assim, o episódio se tornou um dos mais famosos da carreira dos Warrens, rendeu livro, adaptação para a TV e continua dividindo opiniões entre fraude, histeria coletiva ou uma das mais violentas manifestações do sobrenatural nos Estados Unidos.
No filme, Ed e Lorraine tentam aproveitar a aposentadoria quando um último caso os chama de volta: a família Smurl estaria sendo atormentada por uma entidade demoníaca ligada a um espelho amaldiçoado. Em meio ao terror e à tensão, Judy, a filha do casal, descobre dons semelhantes aos da mãe e se junta à investigação. Invocação do Mal 4: O Último Ritual funciona como uma despedida intensa para os famosos demonologistas.
Apesar de superar o terceiro filme, o longa ainda está distante do patamar estabelecido por James Wan. O terror sobrenatural pede uma escalada de suspense que instigue a dúvida entre imaginação e realidade, mas aqui, após um início promissor com algumas ideias criativas e até uma cena visceral que surpreende, o roteiro logo se entrega a manifestações exageradas. Em vez de sustentar a tensão, os recursos são usados apenas para assustar de forma imediata.
O maior problema é a sensação de repetição. O canto da casa mergulhado na escuridão, as silhuetas que se revelam apenas sombras e a incerteza entre sonho e vigília já foram explorados nos três filmes anteriores. A fórmula não é reinventada nem atualizada, apenas repetida. O curioso é que o próprio caso Smurl oferece incidentes fora do padrão habitual da franquia, que poderiam ter servido para renovar a narrativa e dar fôlego aos personagens.
O design de produção e a fotografia tampouco se destacam. Seja por orçamento limitado ou pelo simples fato de nunca terem sido pontos fortes nas produções ligadas a Wan, o filme não acompanha os padrões visuais mais ambiciosos que o terror moderno vem apresentando. O mesmo pode ser dito da direção, me foge a razão como Chaves foi de diretor de um clipe musical da Billie Eilish para o péssimo A Maldição da Chorona (2019), e com um filme tão fraco ter conquistado um lugar numa das últimas grandes franquias de terror sobrenatural a ter surgido.
Já o casal de protagonistas ainda apresenta uma química em tela que ajuda com o fraco desenvolvimento emocional do roteiro. Os dois atores foram ganhando mais destaque a cada filme da franquia, e aqui fica bem evidente o porquê. O clima de despedida também ajuda a criar algum tipo de comoção nos minutos finais, apesar da extrema falta de coragem do roteiro de dedicar mais tempo na exploração das consequências dos traumas que as duas famílias vivenciam.
Invocação do Mal 4: O Último Ritual parece feito para quem tem nostalgia do terror de sustos que dominava os cinemas no início da década passada. É um encerramento previsível, com roteiro simples e fórmulas conhecidas, que entrega uma despedida digna para Ed e Lorraine, mas deixa claro que a franquia já não ocupa mais o topo do gênero.
Nota: 5/10