Juntos é produzido e estrelado pelo casal da vida real Dave Franco (Anjos da Lei, Truque de Mestre) e Alison Brie (Community, GLOW). O roteiro e a direção são de Michael Shanks, em sua estreia como cineasta. O filme estreou no Festival de Sundance 2025, foi disputado por grandes distribuidoras e acabou adquirido pela Neon por 17 milhões de dólares após críticas extremamente positivas.
Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie) são um casal que, como muitos, vive aquele equilíbrio instável entre amor e irritação diária. A diferença é que, no caso deles, o destino decide levar a metáfora da “união” a um nível grotescamente literal: eles começam a se fundir fisicamente. Entre consultas médicas sem respostas, crises de ansiedade e uma crescente sensação de claustrofobia a dois, a relação é testada de maneira dramática. Misturando humor ácido e horror corporal, Juntos transforma a intimidade em algo tão fascinante quanto desconfortável.
Desde sua estreia, o longa vem sendo comparado ao sucesso de horror corporal de 2024, A Substância. A semelhança faz sentido quando se fala dos efeitos visuais, bem feitos e desconfortáveis, mas perde força ao perceber que Juntos é uma obra com menos sangue e com muito menos originalidade na busca por explicações para os acontecimentos.
Historicamente, esse subgênero do terror costuma apresentar tramas em que pouco se explica e muito se mostra, deixando ao espectador a interpretação dos significados por trás dos acontecimentos nojentos e perturbadores. Juntos segue na direção oposta, com um roteiro simples e expositivo, incapaz de desenvolver um único evento relevante sem diálogos que explicitem de forma óbvia o que os personagens estão pensando ou sentindo. Para piorar, o terceiro ato é uma confusão temporal em que a sincronia dos acontecimentos simplesmente não faz sentido.
A direção é eficaz na primeira metade, enquanto o suspense se constrói, com poucas informações e mais espaço para a imaginação. Porém, à medida que o clímax se aproxima e as cenas passam a ter frequentes momentos de explicação, a quebra de ritmo se torna evidente. O humor ajuda em alguns trechos, mas a impressão final é que as críticas e o marketing que prometeram uma experiência magistral ao nível de A Substância acabaram criando expectativas altas demais para um filme bem mais simples.
O ponto mais alto está na atuação do casal principal. A química, já esperada pelo relacionamento real, e a entrega de ambos tornam fácil se importar e torcer pelo casal do início ao fim. Alison Brie interpreta uma mulher frustrada com a relação, que vê o homem antes sonhador e romântico se transformar em mais uma responsabilidade em sua vida. Ela não acredita estar com um adulto independente. Já Dave Franco se destaca ao viver um homem preso não apenas aos sonhos do passado, mas também a seus traumas. A co-dependência, o peso do fracasso da carreira musical e a ansiedade o colocam na posição de alguém para quem a parceira é a única âncora emocional.
Apesar de não cumprir totalmente a promessa de um terror corporal impactante, Juntos funciona como comédia de humor ácido com elementos de suspense. Mesmo que o amadorismo do diretor apareça em alguns momentos, o carinho pelo projeto é claro, e as atuações se tornam o verdadeiro alicerce do filme. Se tivesse sido lançado em um momento de baixa para o gênero, talvez encontrasse mais sucesso com expectativas mais moderadas.
Nota: 6/10