Enquanto atua como jurado em um julgamento de assassinato de alto nível, um pai de família se vê lutando com um sério dilema moral, que ele poderia usar para influenciar o veredito do júri e potencialmente condenar ou libertar o assassino errado.
A história é simples e tem um escopo pequeno, mas possui várias camadas e é um constante lembrete de como nem tudo precisa ser grandioso para nos ensinar lições valiosas. Como é de praxe para Clint Eastwood, o fator humano agrega muito mais ao enredo do que qualquer efeito especial ou monólogo seria capaz de demonstrar.
Os questionamentos que o filme apresenta vão além do sistema jurídico norte-americano, sendo mais voltados para as falhas de investigações policiais e o processo judicial. A quem cabe dizer se a investigação de um crime foi justa? E como julgar as evidências apresentadas sem saber se outros detalhes podem ter sido deixados de fora?
O roteiro do novato Jonathan A. Abrams é competente, mas é carregado com alguns clichês que são totalmente dispensáveis. Existem momentos de muita exposição de diferentes personagens que acabam parecendo forçados, embora sejam necessário para nos ajudar a entender a motivação dos coadjuvantes do júri, que já têm espaço de tela limitado e são extremamente caricatos.
O protagonista, Justin Kemp (Nicholas Hoult), é um homem com defeitos, mas bem-intencionado. Sua vida está em um ótimo momento e ele está apenas tentando fazer o que acredita ser certo. Concordar com suas ações, ou sequer tentar julgá-lo, não é uma tarefa simples. O ator começou sua carreira ainda jovem, na série britânica Skins, e desde então vem ganhando cada vez mais espaço em Hollywood, com este sendo um de seus melhores trabalhos até agora. Ele nos apresenta um homem que está em conflito consigo mesmo e que, com o decorrer do filme, vê esse conflito se intensificar cada vez mais.
Allison Crewson (Zoey Deutch) é um porto seguro para o protagonista, mas ainda tem os seus próprios conflitos com os quais precisa lidar. Em contrapartida, Harold (J. K. Simmons) parecia ser um personagem central para a trama, mas simplesmente desaparece do filme após causar certo impacto.
James Michael Sythe (Gabriel Basso) está sendo acusado de um crime com poucas provas, e não tem muito espaço para contar seu ponto de vista. Coube à ótima interpretação do ator convencer a todos de sua inocência com o pequeno espaço de tempo que lhe foi dado. Um desafio muito complicado quando, do outro lado do julgamento, temos Faith Killebrew (Toni Collette), uma procuradora incessante, que inicialmente demonstra muito mais interesse em sua carreira do que em encontrar o verdadeiro culpado, até ser lembrada de qual deveria ser o seu papel no caso.
Com muitos clássicos do cinema em seu currículo, Clint Eastwood é um diretor conhecido por realizar pouquíssimos takes e por fazer as gravações de seus longas em curtíssimos espaços de tempo, muitas vezes se limitando a gravar diversas cenas uma única vez. Quando um projeto como esse é realizado, é preciso admirar a visão do profissional. Mesmo aos 94 anos de idade, ele tinha um objetivo claro com esse filme e a forma como a história é contada é louvável. Apesar de competente, a montagem final deixa perceptível que algumas cenas foram cortadas para acelerar a história, e quando a maioria das cenas são gravadas uma única vez, é impossível evitar alguns cortes que causem certa estranheza.
Apesar de não impactar a avaliação da obra, é preciso comentar a distribuição vergonhosa que a Warner Discovery deu para esse longa. O diretor foi comprometido com o estúdio por décadas, e dada a sua idade, este pode ser talvez o seu último filme. Limitar o lançamento para poucos cinemas americanos e então um lançamento global direto para streaming na Max é um desrespeito ao diretor e a uma das melhores obras cinematográficas do ano.
Nota: 8/10