Lilo & Stitch
Lançado em 2002 pela Disney, Lilo & Stitch encantou o público com sua animação vibrante e uma história repleta de emoção. Com um orçamento de cerca de US$ 80 milhões, o filme inovou ao utilizar aquarela na animação, um detalhe artístico raro na época. O sucesso foi imediato, arrecadando mais de US$ 273 milhões e deixando um legado cultural significativo. Popularizando o conceito de ohana, "família" em havaiano, a obra conquistou fãs ao redor do mundo. Com seu carisma irreverente, Stitch se tornou um dos personagens mais icônicos da Disney, originando sequências, séries animadas e uma febre de produtos licenciados.
Já faz um bom tempo que a Disney começou a refazer suas animações clássicas em live-action. A primeira foi 101 Dálmatas (1996), estrelado por Glenn Close como Cruella de Vil. Porém, foi com Alice no País das Maravilhas (2010), de Tim Burton, que esses remakes se intensificaram até se tornarem o que são hoje: uma estratégia lucrativa baseada na nostalgia. Além dos ingressos no cinema, esses filmes repopularizam personagens e impulsionam a venda de produtos para o público infantil e adulto.
Lilo & Stitch narra a improvável amizade entre uma jovem havaiana e um alienígena fugitivo de aparência canina. Stitch (Chris Sanders), conhecido como Experimento 626, é uma criatura travessa que acaba sendo adotada por Lilo (Maia Kealoha), uma menina criativa e rebelde. Juntos, eles embarcam em uma jornada repleta de caos e descobertas, aprendendo sobre o verdadeiro significado de família.
A essência da história permanece a mesma, e muitas cenas do primeiro ato são praticamente idênticas às da animação. No entanto, conforme a narrativa avança, as alterações tornam-se mais frequentes e culminam em um terceiro ato completamente diferente do original. O problema não está apenas na diferença, mas na qualidade das mudanças. Todas as melhores decisões de roteiro são as que foram copiadas do filme de 2002, enquanto as novas inserções se mostram inferiores. Isso não é nenhuma surpresa, considerando que o projeto passou por diversos roteiristas antes de entrar em produção.
Por conta do apelo ao público infantil é impossível encontrar uma exibição com áudio original, então seria injusto julgar as atuações com muito rigor. A dublagem funciona bem e consegue adaptar alguns termos sem prejudicar a experiência. Contudo, há momentos em que a entonação das vozes não se encaixa perfeitamente com as expressões físicas dos personagens. O destaque fica para Maia Kealoha, que entrega uma performance sólida mesmo tendo que contracenar com um Stitch criado digitalmente em pós-produção, um desafio difícil para qualquer ator mirim.
O diretor Dean Fleischer Camp, que ganhou notoriedade com Marcel, a Concha de Sapatos, demonstra mais habilidade nas cenas intimistas e emocionais. No entanto, as sequências de ação carecem de inspiração e não capturam o dinamismo do original.
O maior vilão desse remake é seu design de produção. Quem assistiu à animação lembra do uso vibrante de cores e do contraste visual que refletia a estética havaiana em roupas e cenários. No live-action, a paleta foi dessaturada, deixando o filme com um visual genérico. Apesar da ambientação no Havaí, poucas cenas realmente conseguem transmitir essa identidade cultural. Em muitos momentos, poderia ser qualquer cidade litorânea sem diferencial.
A Disney conseguiu exatamente o que queria: revitalizar Lilo & Stitch para impulsionar a franquia comercialmente, garantindo vendas massivas de produtos pelos próximos anos. O longa também tem tudo para ser a maior bilheteria do ano.
Embora não seja um excelente remake, também está longe de ser um fracasso. Há momentos genuinamente emocionantes, as cenas de comédia funcionam e algumas alterações nos personagens fazem sentido, evitando que o filme seja apenas uma cópia direta do original.
Ainda assim, os vários pequenos defeitos impedem que a nova versão alcance o mesmo nível de qualidade do filme de 2002. Lilo & Stitch continua sendo um bom longa para crianças e para assistir em família, mantendo Stitch como um ícone para uma nova geração. Quanto à Disney, resta torcer para que um dia essa necessidade de transformar toda animação em live-action seja abandonada. Afinal, animações já são filmes completos por si mesmas, e refazê-las de maneira realista apenas dilui a magia e a fantasia que as tornaram especiais em primeiro lugar.
Nota: 5/10