Mickey 17
O novo filme de Bong Joon Ho reforça a reputação do diretor, que se tornou mundialmente conhecido após o sucesso de Parasita, o primeiro filme em língua não inglesa a ganhar um Oscar de Melhor Filme. A principal estrela de Mickey 17, Robert Pattinson, ascendeu ao estrelato com a saga Crepúsculo e, desde então, tem se consolidado em uma filmografia de obras independentes e vistas como alternativas ao cinema tradicional.
O filme sofreu diversos atrasos na sua data de lançamento, inicialmente prevista para março de 2024. Os adiamentos e a falta de material promocional criaram muito suspense em torno da qualidade do longa, levantando dúvidas sobre a confiança da distribuidora. A verdade é que o sucesso de Parasita estabeleceu expectativas irrealistas para este projeto, criando um cenário ideal para especulações e um lançamento incerto.
Baseado no livro de Edward Ashton, Mickey 17 é uma ficção científica que acompanha Mickey Barnes (Robert Pattinson), um homem enviado em missões suicidas para obter avanços científicos em uma jornada que visa colonizar o planeta gelado de Niflheim. Como parte de um grupo de humanos descartáveis, cada integrante é designado a tarefas perigosas e, ao morrer, tem suas memórias transferidas para um novo corpo, um clone que continua a missão sem interrupções.
Se o início da carreira de Pattinson foi marcado pela má fama atribuída à qualidade questionável da saga Crepúsculo, o ator agora demonstra talento e versatilidade em cada nova obra. Em Mickey 17, ele não apenas protagoniza como também interpreta outros clones do personagem principal. É impressionante como Pattinson consegue criar características e expressões únicas para cada versão de Mickey, mesmo que não haja muita lógica em clones exibirem comportamentos tão distintos. Ainda assim, a escolha funciona bem para o público, ajudando a diferenciar quem está em cena, apesar da semelhança física e dos trajes idênticos.
Bong Joon Ho, por sua vez, reafirma sua habilidade em mesclar gêneros cinematográficos em um único projeto, entregando uma estética e ambientação envolventes. O comprometimento do diretor em criar experiências cinematográficas únicas e originais continua evidente. No entanto, para aqueles que esperavam algo tão impactante quanto Parasita, alguns aspectos de Mickey 17 podem decepcionar. A narrativa é mais arrastada e, em certos momentos, perde o foco ao explorar histórias paralelas que se mostram descartáveis.
As críticas ao capitalismo, recorrentes na filmografia de Bong Joon Ho, são apresentadas aqui de forma bem mais rasa, muitas vezes com um tom de paródia que pode atrapalhar a experiência. Isso é particularmente evidente nas atuações de Mark Ruffalo e Toni Collette, cujos personagens ajudam a explorar temas como a precarização laboral e a desumanização do trabalhador. Enquanto Parasita navegava entre diferentes temas e subvertia expectativas, Mickey 17 opta por deixar a subversão de lado, focando em efeitos especiais bem elaborados que sustentam a proposta de uma ficção científica espacial.
Mickey 17 nasceu condenado a ser comparado a Parasita, mas, quando avaliado de forma independente, traz uma história original e uma atuação divertidíssima de Robert Pattinson, que interpreta tanto o protagonista quanto outros personagens com maestria. Apesar da duração de mais de duas horas, o longa dá a impressão de ter sofrido cortes pela distribuidora, deixando um roteiro que carece de coesão e justificativa para a quantidade excessiva de personagens. Talvez, com um lançamento em mídia física, possamos ver uma versão mais completa e que resolva essas questões.
Ainda assim, a versão exibida nos cinemas é uma recomendação imperdível para fãs de ficção científica que buscam algo diferente do habitual. Mickey 17 pode não atingir as alturas de Parasita, mas é uma obra criativa e envolvente.
Nota: 7/10