Mountainhead
Mountainhead é o novo lançamento da HBO para streaming, um filme escrito e dirigido por Jesse Armstrong, criador da série Succession, que acumulou 19 prêmios Emmy, incluindo um de melhor roteiro para cada uma de suas temporadas. Embora compartilhe temas semelhantes à série, como poder, dinheiro e influência, o longa se afasta do tom político para apresentar uma narrativa centrada em quatro amigos bilionários reunidos em uma partida de pôquer.
A produção mergulha na problemática dos deepfakes, tecnologia baseada em inteligência artificial que manipula imagens e vídeos com impressionante realismo, permitindo a alteração de rostos e vozes. Esse conceito dialoga diretamente com os dilemas atuais sobre o avanço das IAs, alimentando debates sobre suas possíveis consequências e limites éticos.
A trama acompanha quatro líderes da indústria tecnológica que se reúnem em uma mansão luxuosa enquanto uma crise internacional ameaça a estabilidade política, social e econômica do mundo. Dentro dessa bolha de riqueza, eles vivem como se fossem intocáveis, acreditando que seu dinheiro e status os tornam invulneráveis às consequências da realidade. O personagem interpretado por Steve Carell, que tem aparecido menos nas telas nos últimos anos, se destaca como o único que apresenta alguma profundidade emocional interessante, em contraste com seus colegas, que são essencialmente figuras desprovidas de sentimentos genuínos.
À medida que o impacto das ferramentas de IA desenvolvidas por um dos protagonistas atinge seu auge, os personagens começam a arquitetar estratégias para lucrar com o caos resultante. Essa abordagem gera um dos momentos mais sombrios e perturbadores da narrativa, revelando o verdadeiro peso da falta de empatia dos quatro amigos. No entanto, ao invés de seguir para um desfecho intenso e dramático, Armstrong opta por uma rota inesperada que desafia as expectativas iniciais do público.
Este é o primeiro grande projeto cinematográfico dirigido por Jesse Armstrong, que até então havia se consolidado como roteirista e produtor. Surpreendentemente, sua direção é precisa e envolvente, demonstrando uma ótima visão estética e controle de ritmo. Curiosamente, é justamente o roteiro, a área em que Armstrong é mais reconhecido, que apresenta as maiores falhas.
O final do filme será divisivo, não por sua execução técnica, mas pela forma como abraça completamente a sátira e transforma seus protagonistas em caricaturas. Isso pode deixar uma sensação de história incompleta ou desperdiçada, mas também é possível interpretar essa escolha como um reflexo intencional da futilidade e pequenez daqueles que possuem imenso poder aquisitivo, mas demonstram total falta de empatia e humanidade.
O histórico do diretor mostra que seu talento é indiscutível quando se trata de séries, e seu único roteiro de longa-metragem bem avaliado até agora foi uma adaptação. Infelizmente, apesar da expectativa gerada pelo sucesso de Succession, Armstrong não consegue aproveitar a oportunidade dada pela HBO para expandir sua marca, falhando principalmente no desenvolvimento narrativo.
Para aqueles que apreciam histórias onde figuras absurdamente ricas e emocionalmente vazias são expostas e ridicularizadas, Mountainhead ainda oferece conteúdo interessante. No entanto, como obra cinematográfica, ele peca na construção de seus personagens e entrega um terceiro ato que, apesar de satírico, se revela anticlimático e frustrante.
Nota: 5/10