Anna Ecklund, cujo nome verdadeiro provavelmente era Emma Schmidt, foi uma mulher norte-americana nascida em 1882, conhecida como protagonista de um dos casos de exorcismo mais documentados do século XX. A teoria mais aceita entre os estudiosos que acreditam na veracidade da possessão é a de que Anna teria sido possuída por seu pai, pela amante dele e também por Judas Iscariotes.
O primeiro exorcismo foi realizado em 1912 pelo padre Theophilus Riesinger. Em 1928, ele voltou a conduzir o ritual que tornou o caso amplamente conhecido. O processo durou cerca de três meses e, de acordo com a documentação do padre Joseph Steiger, Anna teria levitado, falado em diversas línguas, demonstrado força descomunal e reagido violentamente à água benta.
Após esse segundo exorcismo, Anna teria vivido em paz até sua morte, ainda que a data exata permaneça incerta. Mesmo com toda a notoriedade do caso, a história havia sido adaptada apenas uma vez, no péssimo O Exorcismo de Anna Ecklund (2016), ignorado por crítica e público. Com O Ritual, estrelado por Al Pacino, a promessa era de algo mais assustador e fiel ao que foi documentado.
No filme, dois padres, um em crise de fé e outro com um passado conturbado, precisam superar suas diferenças para salvar uma jovem possuída. A sinopse soa genérica, como quase todos os filmes de exorcismo produzidos nas últimas décadas. É compreensível, já que até as histórias fictícias se inspiram em casos reais, e este é anterior à própria existência do cinema.
O que não se pode relevar é a insistência numa agenda religiosa que busca reafirmar a força da fé nos momentos de escuridão. Embora seja um tema inevitavelmente ligado à religião, bons filmes de exorcismo não precisam defender dogmas para causar medo. Fazer o espectador acreditar na possessão já é suficiente para tornar real tudo que a cerca. O terror sempre usou o medo como forma de ensinar, e para boa parte do público, isso funciona. Uma vez convencido da veracidade do que vê, o espectador compra também o universo que o sustenta.
E a verdade é que há um motivo para esse caso ter sido inspiração para tantas ficções e só ter recebido uma adaptação anterior. Foram meses de rituais longos, quase exaustivos, com um desfecho sem nenhum clímax real. O roteiro tenta contornar isso, mas não há como estruturar com fidelidade uma história assim dentro do modelo narrativo de três atos.
Em alguns momentos, os diálogos parecem retirados diretamente da página da Wikipedia sobre o caso, com os personagens explicando detalhes apenas para situar o público. Em contrapartida, o longa também distorce livremente o relato original para se adequar ao formato. Há, por exemplo, mais tentativas de exorcismo no filme do que as registradas nos documentos.
Como se seguisse uma lista de lugares-comuns, o roteiro ainda insiste em clichês: a madre superiora como figura racional e forte, enquanto todas as outras freiras são frágeis e influenciáveis; a freira mais bonita que parece ser um interesse romântico disfarçado do padre; e uma tentativa breve de introduzir o terror psicológico que não contribui para a história e apenas serve para esticar o tempo do filme. Nada disso tem qualquer ligação com o caso real, são apenas fórmulas recicladas do gênero.
A direção adota um uso questionável do estilo cinéma vérité, técnica consagrada em documentários e popularizada no entretenimento por séries como The Office. Aqui, o resultado é desastroso: o tom documental aplicado a cenas de possessão acaba gerando um efeito cômico e completamente deslocado.
Quanto à presença de Al Pacino, ela é irrelevante. Ele entrega o básico, e sem um roteiro que lhe dê material, não há como escapar da apatia. As subtramas não vão a lugar algum, o desenvolvimento emocional é raso, e os diálogos estão em desacordo com o contexto histórico da trama. O restante do elenco sofre dos mesmos obstáculos.
Vale também apontar o esforço do marketing do filme em ser deliberadamente enganoso. A história de Anna Ecklund, na realidade, não tem qualquer vínculo com O Exorcista (1973), de William Friedkin, que se inspirou no caso de Roland Doe.
O Ritual é uma tentativa desastrosa de recriação do sucesso de O Exorcista. Seus criadores parecem não ter compreendido o que faz do longa de 1973 um marco do cinema. Nada aqui é novo ou melhor do que qualquer outro filme já inspirado por aquele clássico. É uma obra preguiçosa, genérica e esquecível.
Nota: 1/10