O diretor e roteirista Ryan Coogler, que se consolidou no cinema norte-americano com seu trabalho na franquia Creed e nos filmes do Pantera Negra no Universo Cinematográfico da Marvel, retorna agora com um projeto totalmente autoral. Em Pecadores, ele se distancia das grandes franquias para estabelecer sua identidade própria no terror, assumindo total liberdade criativa e controle narrativo. Como de costume, Michael B. Jordan marca presença, desta vez interpretando dois personagens centrais em um papel desafiador.
Na trama, dois irmãos gêmeos retornam à cidade onde cresceram, desejando deixar o passado para trás e começar de novo. No entanto, a volta ao lar revela-se mais sombria do que imaginavam. À medida que velhas feridas são reabertas, o que deveria ser um recomeço transforma-se em um pesadelo, quando uma entidade maligna emerge das sombras para atormentá-los, forçando-os a enfrentar os segredos que tentaram esquecer.
Como um filme de vampiros, Pecadores pode decepcionar pela baixa presença das criaturas em tela, mas quando aparecem, são representadas com maestria. A ameaça e o carisma dos vampiros evocam traços clássicos que remontam à figura icônica de Drácula, de Bram Stoker.
Falando em vilões encantadores, Jack O'Connell assume o papel do principal antagonista e entrega uma performance primorosa. Sua presença demoníaca transmite uma sensação de experiência acumulada ao longo de séculos, indo muito além da idade aparente de seu corpo físico. Enquanto isso, Michael B. Jordan, interpretando dois irmãos gêmeos, alcança talvez o melhor papel de sua carreira até o momento. Apesar da semelhança física entre os personagens, ele os diferencia com maneirismos e temperamentos distintos, o que reforça a ilusão de que são dois indivíduos distintos contracenando.
Tecnicamente, o filme impressiona. A fotografia é encantadora, e o trabalho de montagem torna as mais de duas horas de duração surpreendentemente bem digeríveis. Pequenos momentos de tensão e comédia ajudam a criar um ritmo equilibrado antes do terceiro ato, que é brutal, sangrento e extremamente dinâmico.
Embora não seja um musical, a trilha sonora desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da trama, quase como uma força sobrenatural. O filme ilustra, de maneira belíssima, a relação das pequenas comunidades com a música como arte que une as pessoas.
No cinema moderno de Hollywood, tornou-se comum substituir sutileza por mensagens políticas explícitas, que muitas vezes são inseridas de maneira forçada. Embora essa abordagem não seja necessariamente errada, seu uso excessivo tem se tornado cansativo. Em Pecadores, no entanto, a discussão sobre racismo é entrelaçada com sensibilidade ao longo da narrativa. Em vez de direcionar todos os holofotes para o discurso político, o filme constrói um terror eficaz que equilibra drama e atmosfera sobrenatural. Dessa forma, até mesmo espectadores avessos à temática podem se envolver na trama e, talvez, absorver sua mensagem de forma inconsciente.
Um adendo importante para quem pretende assistir ao filme: fiquem no cinema até as luzes acenderem. A cena mais impactante do longa surge no meio dos créditos finais — e sim, isso é um problema.
Por fim, o lançamento em abril deixa claro que, apesar das grandes chances de Pecadores ser um dos filmes com a melhor fotografia, direção e trilha sonora de 2025, dificilmente encontrará espaço na temporada de premiações. Com o Oscar de 2026 ainda distante e a histórica dificuldade de promover filmes de terror na premiação, a Warner optou por lançar o filme em um período tradicionalmente associado a bilheterias mais baixas.
Com uma história que toca em temas sociais e históricos sem perder o foco no terror, Pecadores consagra-se como um dos grandes filmes do gênero nesta década. Com atuações excepcionais e uma narrativa longa, porém dinâmica, ele prova que o medo, em certas circunstâncias, pode ser uma poderosa ferramenta de aprendizado.
Nota: 9/10