A primeira vez que a Disney adaptou o conto Branca de Neve, dos irmãos Grimm, foi em 1937. O longa-metragem de animação ficou mundialmente conhecido como precursor do uso de contos de fadas no cinema e uma inovação técnica que se tornou um marco importante na indústria de animação. Branca de Neve é amplamente considerado um dos maiores filmes já feitos e um precursor da era de ouro da animação.
O anúncio de uma nova adaptação do mesmo conto pela Disney foi feito em 2016. Após inúmeros atrasos e negociações, as filmagens ocorreram em 2022. No entanto, polêmicas começaram a surgir nas redes sociais devido a declarações de membros do elenco, afirmando que o filme mudaria vários elementos da animação original. Isso resultou em refilmagens realizadas em 2024, com o objetivo de ajustar partes da história.
A narrativa segue a jovem princesa Branca de Neve (Rachel Zegler), cuja beleza incomparável desperta a fúria e a inveja de sua madrasta, a temida Rainha Má (Gal Gadot). Determinada a destruir a enteada, a vilã ordena sua execução, mas Branca de Neve consegue escapar, buscando refúgio na floresta. Lá, encontra uma cabana habitada por sete anões, que a protegem e se tornam seus fiéis aliados. Entretanto, o perigo persiste, pois a Rainha Má elabora um plano ardiloso e mortal: oferecer à princesa uma maçã envenenada.
Apesar das regravações, o filme introduz algumas ideias originais que não estavam presentes na animação clássica. Desta vez, a princesa se junta a um grupo de bandidos, que recorrem ao roubo devido à falta de oportunidades em uma vida sob uma monarquia cruel. Além disso, Branca de Neve se apaixona pelo líder do grupo em vez de um príncipe encantado. Os anões foram transformados em criaturas mágicas criadas com efeitos especiais, ao invés de uma abordagem com atores. O filme também apresenta um novo conjunto de músicas, deixando de lado os clássicos já consolidados. Embora essas mudanças não sejam inerentemente ruins, o problema está em como foram mal executadas.
O grupo de bandidos carece totalmente de personalidade, e o novo “príncipe encantado” (Andrew Burnap) sofre com uma absurda falta de carisma. Os anões têm suas características principais, que lhes dão os nomes, reinterpretadas como defeitos de personalidade, o que os torna um grupo disfuncional e desinteressante. Um destaque negativo é o Dunga, que protagoniza o momento mais vergonhoso e decepcionante do filme. Para piorar, as novas músicas não agregam nada à experiência e falham em deixar qualquer impacto significativo.
O filme segue a cartilha que a Disney tem adotado na última década: alterar a essência das histórias para garantir obras que agradem a ativistas políticos e se mantenham politicamente corretas. Enquanto cineastas enxergam o audiovisual como uma forma de arte capaz de instigar emoções e tirar o público de sua zona de conforto, o corporativismo moderno da Disney enxerga suas produções como produtos que devem agradar à maioria dos consumidores para maximizar lucros e evitar polêmicas.
Apesar de um design de produção genérico e pouco imaginativo, Rachel Zegler é uma luz em meio à escuridão. Sua atuação carrega o filme quase inteiramente sozinha, emocionando e surpreendendo mesmo sem ter alguém à sua altura para contracenar. Isso inclui até Gal Gadot, que aqui parece entregar a pior atuação de sua carreira.
Branca de Neve é exatamente o que os rumores indicavam. O filme não traz a magia ou a musicalidade da animação, não compreende o propósito da história original e parece mais um exemplo do já habitual processo de modernização politizada que a Disney tem aplicado aos seus maiores clássicos. Para quem deseja apresentar esta história às crianças, o clássico de 1937 continua sendo a melhor escolha.
Nota: 3/10