Sonic, Knuckles e Tails se reúnem contra um novo e poderoso adversário, Shadow, um vilão misterioso com poderes diferentes de tudo o que já enfrentaram antes. Com suas habilidades excepcionais, a Equipe Sonic busca uma aliança improvável.
A franquia Sonic no cinema é uma das grandes surpresas dos últimos anos. O mais comum para filmes baseados em jogos são obras que mudam o conteúdo das histórias originais, na tentativa de atrair o público que não conhece os jogos, e acabam apenas desagradando a todos. Alguns exemplos recentes disso são os filmes das franquias Uncharted, Borderlands e Resident Evil.
Quando o trailer do primeiro filme foi anunciado, tantas críticas e reclamações foram feitas online que a produtora optou por adiar o lançamento e revisar alguns detalhes do longa. Para o choque de todos, o resultado final foi um filme que respeita o material original e é recheado de referências aos jogos. Agora, chegando no terceiro longa da série, parece que o diretor, que era um completo novato na produção do primeiro, está finalmente confortável com seu trabalho e não só entende, mas abraça as limitações do material que está sendo adaptado. Os protagonistas são um ouriço, um equidna e uma raposa; não é uma história séria e não deveria ser.
Com o principal núcleo de personagens sendo feito totalmente por CGI, a exigência do departamento de efeitos especiais é alta desde o primeiro filme. Aqui temos uma história com vários personagens não-humanos e um escopo muito maior de batalhas e explosões; contudo, o trabalho de efeitos continua sendo bem realizado. Comparado aos efeitos de outro lançamento recente, Gladiador 2, não seria um erro cogitar que Sonic 3 é o filme com maior custo de produção. Na verdade, o novo Gladiador custou mais que o dobro.
Se antes os filmes já eram bons em referenciar outros jogos da franquia, agora também estão sendo feitas referências a outros jogos clássicos que, para o público que vem desse universo, serão facilmente identificáveis.
Mesmo sendo um filme para a família, com muito humor voltado ao público juvenil, a inteligência do espectador não é subestimada. O roteiro é direto, a história é simples e os momentos de exposição, apesar de frequentes, são criativos. Existe, porém, uma quantidade considerável de falhas na montagem final. É difícil avaliar o motivo para cada corte que as cenas sofrem, mas a quantidade de erros de continuidade é alta, e com o agravante de que a maior parte deles envolve os personagens digitais, fica a sensação de que poderiam ter sido corrigidos com mais tempo dedicado à pós-produção.
Shadow é o vilão de destaque, com um desenvolvimento levemente embaraçoso, mas bem feito. Keanu Reeves, dando voz ao personagem, é brilhante e eleva o antagonista da história a um ponto onde entendemos suas motivações, mesmo sem concordar com suas ações.
Ben Schwartz dá voz ao protagonista e é a voz com menos peso nos momentos mais dramáticos, mas compensa nas situações de humor (que parecem ser mais frequentes do que no longa anterior). Idris Elba como Knuckles é hilário, com uma seriedade mórbida que combina muito com o personagem que mais sofre em entender como se portar em interações sociais. Colleen O'Shaughnessey é uma dubladora experiente que entende o papel de Tails na trama, mas não possui muito espaço de destaque.
Jim Carrey está sensacional, com bastante liberdade para ser engraçado, e até com um momento dramático que não tinha nenhum direito de ser tão bom quanto foi. Aqui, ele interpreta não apenas o vilão Ivo Robotnik, mas também seu avô Gerald Robotnik, e os dois personagens têm várias cenas juntos. O ator parece se divertir muito contracenando consigo mesmo, com muita liberdade para fazer suas gracinhas e até mesmo quebrar a quarta parede em diferentes momentos.
Outros humanos, que nos filmes anteriores eram mais importantes, foram totalmente escanteados, o que não é de todo ruim. A franquia chegou a um ponto em que os personagens dos jogos são suficientes para manter a trama interessante sem a necessidade de um grande vínculo com o núcleo humano; ainda assim, os relacionamentos que foram estabelecidos anteriormente não são ignorados.
Sonic the Hedgehog 3 continua trazendo a franquia para novos patamares no cinema. Sendo o melhor da série até o momento, a confirmação de um quarto longa deve ser apenas questão de tempo. O filme se recusa a seguir o padrão de trilogias que perdem o fôlego no terceiro filme e estabelece o melhor longa do ouriço azul até agora. Apesar de alguns problemas de pós-produção, é uma obra que entende suas limitações e seus pontos fortes, e não tem medo de ousar com um pouco de liberdade criativa.
Nota: 7/10