Superman
Em 1938, na primeira edição da história em quadrinhos Action Comics, nascia o Superman, considerado por muitos como o primeiro super-herói. Ele logo se tornou um símbolo do “jeito americano” e alcançou grande relevância durante a Segunda Guerra Mundial. Nascido em Krypton com o nome de Kal-El, o personagem sempre representou o arquétipo do imigrante ideal, alguém que adota sua nova terra como lar e luta por ideais de verdade e justiça, refletindo valores centrais da identidade dos Estados Unidos.
No cinema, as interpretações de Christopher Reeve marcaram profundamente a história do personagem, consolidando o Superman como a principal referência de super-heróis não apenas nos quadrinhos, mas também nas telas por décadas. Mais recentemente, Brandon Routh e Henry Cavill também assumiram o papel, mas sem alcançar o mesmo nível de relevância cultural.
E falando em apresentações de menor impacto, depois de anos em que a Warner tentou replicar o sucesso da Marvel no cinema, em parceria com o diretor Zack Snyder, o universo da DC ficou inconsistente, com resultados fracos tanto na crítica quanto nas bilheterias. Os personagens são mundialmente conhecidos, mas sua força e identidade foram profundamente enfraquecidas.
Em meio a esse cenário, James Gunn se destacava na Marvel com os filmes dos Guardiões da Galáxia, o que lhe rendeu a chance de revitalizar a DC com o novo Esquadrão Suicida (2021) e a série Pacificador (2022). O sucesso imediato desses projetos levou Gunn a assumir o comando da DC Studios ao lado de Peter Safran, que já havia produzido diversos filmes de terror para a Warner e atuado como uma figura de liderança na fase final do ciclo de Zack Snyder. No meio de um planejamento confuso e prejuízos financeiros, Gunn surgiu como promessa de renovação. Seu primeiro projeto desde que assumiu esse papel é Superman, pensado como ponto de partida para uma nova linha de filmes e séries da DC.
Em Superman, dirigido por Gunn, acompanhamos a tentativa do herói de equilibrar sua origem kryptoniana com a vida que construiu como Clark Kent (David Corenswet) em Smallville, Kansas. A trama resgata figuras clássicas do universo da DC, trazendo personagens como Lex Luthor (Nicholas Hoult), Lois Lane (Rachel Brosnahan), Lanterna Verde (Nathan Fillion) e Mulher Gavião (Isabela Merced). Diante de ameaças grandiosas e de uma sociedade que questiona seus valores de justiça e verdade, Superman será forçado a colocar seus princípios à prova como nunca antes.
Para um roteiro que aposta em muitas cenas de ação e pouco tempo para desenvolvimento emocional, a escolha do elenco foi certeira. David Corenswet entrega um Superman que, apesar de diferente das versões anteriores, ainda soa familiar. Lois Lane volta a ter um protagonismo que há muito tempo a personagem não tinha nas adaptações. E é necessário destacar Nicholas Hoult. Em 2024, elogiei o ator pelo melhor ano de sua carreira com Nosferatu e Jurado Nº 2. Agora, em 2025, ele segue em excelente fase.
Os efeitos visuais são bem executados e as cenas de ação são divertidas, embora, curiosamente, a luta mais empolgante do filme não envolva o protagonista. Também chama atenção o tom de humor presente em vários momentos. Depois de tantos anos, é difícil aceitar que a DC esteja seguindo o mesmo caminho da Marvel ao quebrar cenas intensas com piadas. Isso nunca foi uma característica do Superman, embora faça parte do estilo pessoal do diretor. Como nem todos os projetos futuros serão escritos ou dirigidos por ele, ainda existe espaço para que a DC encontre um tom mais autêntico e se afaste da fórmula saturada que dominou o cinema de super-heróis na última década.
O principal problema do filme está no roteiro. Não por ser mal escrito, mas porque tenta abraçar mais do que consegue. Mesmo deixando de lado a infância e os primeiros passos do Superman como herói, o filme ainda precisa estabelecer o personagem e, ao mesmo tempo, definir as regras e o tom do novo universo cinematográfico da DC. Como obra isolada, ele é mediano, com atalhos narrativos e diálogos expositivos demais para lidar com temas mais profundos. Mas como introdução a uma franquia maior, funciona bem e prepara o terreno de forma promissora. Ainda em 2025 teremos o retorno da série Pacificador, e 2026 trará uma série do Lanterna Verde, além de filmes da Supergirl e do personagem Cara de Barro.
Talvez justamente pela quantidade de informações que o roteiro precisa transmitir, o lado mais interessante da história tenha sido deixado de lado. O filme apresenta pinceladas de críticas sociais bastante pertinentes, desde a manipulação de informações nas redes sociais até o papel geopolítico do Superman (e dos Estados Unidos) em conflitos no Oriente Médio. O fato de essas críticas surgirem de maneira fragmentada é uma pena, mas já mostra uma possível diferença de abordagem em relação à Marvel, que dificilmente poderia tratar de alguns desses temas sob o controle criativo de progressismo barato da Disney.
Superman é um ponto de partida, uma introdução completa a um novo universo cinematográfico. Apesar de, em certos momentos, se parecer demais com a fórmula que consagrou a Marvel, o filme também apresenta momentos de ousadia. Mesmo que pouco desenvolvidos, esses momentos sugerem uma proposta diferente, com personagens mais complexos inseridos em um mundo que lida com problemas mais reais. Um mundo onde salvar o planeta nem sempre parece um ato glorioso, mas sim um trabalho difícil, onde o verdadeiro conflito não é com vilões que querem destruir tudo, e sim entre pessoas que têm objetivos, visões e feridas diferentes.
Nota: 8/10