
Há décadas, o terror psicológico tem explorado o suspense sobrenatural como uma forma de envolver e assustar o público. Embora essa abordagem tenha se consolidado com clássicos como O Bebê de Rosemary (1968), ela raramente alcança grande sucesso comercial devido ao desafio de equilibrar o terror com uma abordagem sensível do lado psicológico e emocional dos personagens. Entretanto, a última década trouxe uma série de sucessos com esse viés, como Babadook (2014), A Bruxa (2015) e Hereditário (2018), inspirando diversas produtoras a tentarem repetir essa fórmula, que frequentemente se prova eficiente no marketing boca-a-boca e nas redes sociais.
O filme A Mulher no Jardim é mais uma produção da Blumhouse, seguindo o já conhecido “método Blumhouse” – uma abordagem focada em custos reduzidos, liberdade criativa para os diretores e estratégias de distribuição bem planejadas. Essa fórmula foi responsável por grandes sucessos como Corra! (2017) e Infiltrado na Klan (2018), embora frequentemente resulte em filmes aquém do esperado, que só se sustentam financeiramente graças ao baixo orçamento para os padrões de Hollywood.
Na trama, uma figura misteriosa aparece repetidamente no jardim de uma família, muitas vezes dando avisos perturbadores e mensagens assustadoras. Isso provoca dúvidas e tensão, enquanto os membros da família tentam compreender sua identidade, seus motivos e o potencial perigo que ela representa.
Ramona (Danielle Deadwyler) é uma excelente protagonista, trazendo profundidade ao papel de uma mulher em luto pela morte do marido, enquanto tenta lidar com a presença inquietante da mulher misteriosa. Seus filhos na história, Taylor (Peyton Jackson) e Annie (Estella Kahiha), têm atuações menos convincentes, mas a montagem e direção ajudam a reduzir a estranheza nas performances dos jovens atores.
Jaume Collet-Serra, que retorna ao gênero do terror, demonstra competência na criação de suspense e ambientação, estabelecendo um clima tenso que permeia o longa. No entanto, ele ainda recorre ao uso excessivo de sustos baratos – uma técnica que pode ser eficaz para uma audiência mais sensível, mas que certamente não faz parte do público-alvo tradicional das produções da Blumhouse.
Infelizmente, nem direção nem cinematografia são capazes de salvar um roteiro fraco. Antes deste projeto, o roteirista Sam Stefanak possuía um currículo limitado, com créditos de escrita em três séries de comédia adolescente. Sua transição para o suspense psicológico parece ter sido pouco planejada, resultando em uma história que frequentemente desafia a lógica. Os filhos da protagonista são exemplos de personagens irracionais, mesmo dentro do contexto de um gênero repleto de figuras que tomam decisões questionáveis.
Com apenas 1 hora e 20 minutos de duração, o filme não possui material suficiente para sustentar um longa-metragem. Como consequência, o diretor é forçado a estender cenas onde pouco ou nada acontece, ou tudo se desenrola de forma excessivamente lenta. Para piorar, o longa opta por um final ambíguo que deixa para o espectador interpretar o desfecho, mesmo que só haja um fim coerente para a narrativa apresentada.
A Mulher no Jardim é uma produção que, apesar de seu baixo orçamento, entrega um trabalho técnico exemplar, criando um ambiente propício para suspense e tensão. No entanto, falha ao apresentar personagens coadjuvantes rasos, que se comportam de forma absurda diante de qualquer situação minimamente desafiadora. Como já é praxe nas produções da Blumhouse, o orçamento reduzido e uma premissa interessante são suficientes para atrair público e garantir que o filme se pague. No entanto, para quem busca histórias que abordem traumas psicológicos e utilizem o sobrenatural como forma de explorar emoções reprimidas, há opções recentes e muito mais cativantes disponíveis no mercado.
Nota: 4/10