Wicked
Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é um prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem incompreendida por causa de sua pele verde incomum. Ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, ela encontra Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular que só quer garantir seus privilégios.
Não é possível analisar o filme sem levar em conta a peça teatral em que ele é baseado. Na Broadway, é comum que os musicais sejam divididos em dois atos de aproximadamente 90 minutos, com um intervalo de até meia hora entre eles. Para a adaptação cinematográfica, a produção optou por dividir a história em dois filmes, com a segunda parte prevista para ser lançada daqui a um ano.
É inevitável que essa divisão criasse alguns problemas. Filmes costumam ter começo, meio e fim, mas a primeira metade dessa história é apenas isso, uma fração de algo maior. As subtramas do filme ficam todas inacabadas, e os personagens coadjuvantes são, em sua maioria, muito mal desenvolvidos. A Madame Morrible (Michelle Yeoh) torna-se o cúmulo do genérico, com motivações aparentemente inexistentes para suas ações que mais impactam a trama. Apesar desses problemas, o final é interessante e conclui um arco de história para as protagonistas que já dita o tom para o que encontraremos na segunda parte.
Boa parte do que ajuda o longa a se sustentar e permanecer cativante é a atuação das duas personagens principais. Ariana Grande consegue, já nas primeiras cenas, nos deixar intrigados, sendo perceptível que para ela a Bruxa Má do Oeste não é apenas uma inimiga. Ela, junto a Cynthia Erivo, constroem uma relação afetuosa e interessante entre suas personagens durante toda a rodagem do filme.
A qualidade do trabalho técnico para criar a ilusão de um mundo alternativo é visível em todos os cenários, com um design de produção que cria uma Terra de Oz viva e vibrante. Desde os figurinos até a sala de aula do professor bode, Dr. Dillamond (Peter Dinklage), percebemos muita atenção a detalhes em todos os objetos e estruturas. É uma pena como a saturação das cenas é mal explorada, em prol de dar um tom de ‘realismo’ aos ambientes. Eu desconheço alguém que assista a um filme no universo do Mágico de Oz com a expectativa de ver um mundo realista. Ainda assim, quando as duas protagonistas estão contracenando, a dualidade entre o verde e o rosa é constantemente explorada, trazendo mais vida e dinamismo ao ambiente quando elas estão em cena.
As músicas eram um fator de sucesso praticamente garantido para a obra, bebendo da fonte de uma das maiores peças da Broadway. As canções encaixam muito bem na trama, são contagiantes e ajudam a história a avançar. O único elemento que faz falta são as grandes coreografias que, embora presentes, não marcam tanta presença. Isso, somado à quantidade de efeitos visuais com aparência artificial, levanta a questão de se o orçamento de 145 milhões de dólares realmente permitiu a visão criativa do diretor (Jon M. Chu) ser totalmente explorada, visto que em seu trabalho anterior, In The Heights (2021), esses elementos foram muito melhor trabalhados.
Wicked é um ótimo musical de grande orçamento, lançado em uma época em que a bilheteria de filmes do mesmo gênero está encolhendo cada vez mais. Com potencial para trazer o Mundo Mágico de Oz de volta ao mainstream, deve se tornar o favorito de muitos em 2024.
Nota: 7/10